‘Washington Post’ perde mais de 200 mil assinantes por neutralidade política nos EUA

A decisão recente desencadeou um intenso debate e uma série de especulações em torno de Jeff Bezos, levantando a questão se ele estaria tentando agradar Donald Trump. O bilionário, por sua vez, negou veementemente qualquer motivação pessoal por trás da medida adotada.

Kamala e Trump têm 'empate raro' com 48% das intenções de voto cada, diz New York Times Foto: Reprodução: https://www.terra.com.br/

Mais de 200 mil assinantes cancelaram sua inscrição no The Washington Post após o jornal americano anunciar, na última sexta-feira, 25 de outubro, que não endossaria nenhum candidato à presidência dos Estados Unidos.

O relatório divulgado nesta segunda-feira, (28/10) pela emissora pública NPR citou fontes internas que informaram o número de cancelamentos. Supostamente, a equipe editorial do Post havia se preparado para apoiar a candidata democrata Kamala Harris, mas optou por permitir que os leitores decidissem quem apoiar.

O anúncio do jornal de encerrar uma tradição de décadas de apoiar candidatos presidenciais tão perto da eleição gerou reações imediatas tanto dentro da redação quanto entre críticos externos. Alguns chegaram a especular que Jeff Bezos, fundador bilionário da Amazon e atual proprietário do Post, estaria tentando agradar Donald Trump.

No ano passado, o Washington Post possuía mais de 2,5 milhões de assinantes, a maioria em formato digital, ocupando o terceiro lugar em circulação, atrás do The New York Times e do Wall Street Journal. Uma porta-voz do jornal, Olivia Peterson, preferiu não comentar sobre o relatório quando contatada pela Associated Press.

Marty Barton, ex-diretor aposentado do Post, criticou a decisão nas redes sociais, classificando-a como “covardia, cuja vítima é a democracia”. Por outro lado, os jornalistas Bob Woodward e Carl Bernstein, conhecidos pelo trabalho investigativo que resultou no caso Watergate, afirmaram em comunicado que a decisão ignorava as evidências do Washington Post sobre a ameaça que Donald Trump representa para a democracia.

Alguns profissionais, incluindo a colunista Dana Milbank, pediram aos leitores que não cancelassem suas assinaturas em protesto, temendo que isso pudesse impactar o emprego de jornalistas e editores. Em um artigo de opinião publicado no site do jornal, Bezos explicou que a decisão se baseava em “princípios” e negou qualquer ligação com interesses pessoais.

O empresário argumentou que, considerando a diminuição da confiança nos meios de comunicação, era fundamental agir para combater as acusações de partidarismo. Ele destacou que os apoios presidenciais poderiam criar uma percepção de viés, o que levou à decisão de encerrá-los em nome da independência jornalística e transparência.

Bezos também rejeitou as alegações de que sua escolha teria motivações pessoais, refutando preocupações sobre um encontro entre o CEO da Blue Origin e Trump no dia do anúncio. O Post tomou essa decisão logo após o Los Angeles Times também declarar a neutralidade em relação aos candidatos presidenciais, resultando na perda de milhares de assinantes, conforme admitiu a publicação.

Um artigo publicado no site do Post sobre as consequências de sua posição neutra gerou mais de 2.000 comentários, muitos deles de leitores insatisfeitos com a escolha editorial. “Estou cancelando depois de 70 anos de assinatura”, escreveu um deles, expressando desilusão com a credibilidade e imparcialidade do jornal.

Nesta segunda-feira, três jornalistas do veículo anunciaram sua saída do conselho editorial. David Hoffman, que atua no Post desde 1982, Molly Roberts e Mili Mitra, diretora de audiência do departamento de opinião, comunicaram durante uma reunião matutina que estavam deixando suas funções.

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