Termelétricas em excesso prejudicam competitividade industrial
Os brasileiros estão descontentes com a situação em que se encontram, tendo que arcar com subsídios para a produção de energia limpa, enquanto os benefícios ambientais são aproveitados por outros países, especialmente na descarbonização da indústria internacional. Este cenário levanta questionamentos sobre a equidade e a justiça nas relações comerciais e ambientais globais, ressaltando a importância de se repensar as políticas e acordos que impactam diretamente a população e a economia do Brasil.
O Brasil se encontra em uma situação contraditória
Por um lado, o país tem potencial para se tornar um exemplo mundial no que diz respeito à matriz elétrica limpa e renovável, o que seria um diferencial competitivo de grande valor para a indústria nacional. Entretanto, há o risco de desperdiçar essa oportunidade, seja por falta de planejamento adequado ou pela influência de interesses privados. Enquanto lidamos com enchentes no Rio Grande do Sul, enfrentamos agora a falta de chuvas, altas temperaturas e aumento das queimadas. A adaptação às novas condições climáticas e a revisão de estratégias e ações se mostram urgentes, e decisões técnicas e estratégicas são demandadas nesse cenário.
Uma dessas decisões cruciais é assegurar o fornecimento de energia de forma segura, estável e de qualidade tanto para a população como para o setor produtivo, com impacto ambiental mínimo e sem custos abusivos. Apesar de experiências passadas de racionamento, o quadro atual é distinto, com reservatórios em níveis seguros e uma oferta significativa de energia solar e eólica. Nesse contexto, a contratação de usinas térmicas além do necessário é considerada um equívoco tanto do ponto de vista ambiental como econômico. Reduzir emissões e diminuir o valor da conta de energia, prejudicial tanto para consumidores quanto para o crescimento do país, é essencial. Não há ameaça de desabastecimento, e a argumentação em contrário reflete desinformação ou viés. O uso de térmicas deve ser estratégico, limitado ao necessário e com custos minimizados, alinhados à ordem de mérito.
A transição energética preconiza uma mudança sustentável que ainda não foi claramente delineada no Brasil. No passado, a indústria brasileira utilizou óleo pesado, migrando agora para o gás natural, menos poluente. Contudo, a transição para fontes menos emissoras será comprometida se o setor elétrico passar a depender de termelétricas a gás, óleo ou carvão. Isso representaria não uma transição, mas sim uma estagnação, quiçá um retrocesso. A indústria busca energia limpa a preços justos para descarbonizar sua produção, conferindo maior valor agregado a produtos verdes destinados tanto ao mercado doméstico quanto externo. Não é razoável que o brasileiro pague subsídios para viabilizar a venda de energia limpa no exterior, enquanto a indústria nacional perde competitividade. Retroceder na política energética e permitir a prevalência de interesses privados são ações que nos afastam dos objetivos de desenvolvimento almejados.