Racismo ambiental deve ser discutido no Dia da Consciência Negra
A colaboração de todos os segmentos da sociedade é essencial para enfrentar os desafios impostos pela crise climática e para assegurar a proteção adequada das comunidades racializadas. A responsabilidade de agir diante dessas questões transcende fronteiras e demanda o envolvimento ativo e consciente de indivíduos, organizações e governos em prol de mudanças significativas e duradouras. A união de esforços e a adoção de medidas concretas são fundamentais para construir um futuro mais sustentável e equitativo para todos.
O impacto avassalador de eventos climáticos extremos em áreas urbanas é um cenário cada vez mais recorrente e preocupante em um mundo em constante mutação. Recentemente, Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, sofreu com chuvas intensas que resultaram no maior desastre climático da história do estado, deixando mais de 300 cidades em estado de calamidade e afetando cerca de 800 mil pessoas. A solidariedade se fez presente diante da força das águas, que desabrigou famílias, isolou o aeroporto e demandou uma resposta conjunta da sociedade.
Entretanto, a dimensão do impacto de eventos climáticos em comunidades vulneráveis, como favelas, traz à tona questões mais profundas de desigualdade e injustiça social. O conceito de racismo ambiental ganha relevância quando observamos a disparidade de respostas e de proteção entre áreas nobres e periféricas durante desastres naturais, como evidenciado nas chuvas que atingiram o Rio de Janeiro e a trágica realidade do desastre de Mariana, em Minas Gerais, há algumas décadas, onde a impunidade frente a crimes ambientais é uma ferida aberta na sociedade.
A lente do Censo do IBGE nos revela a dura realidade e a extensão das favelas no Brasil, que abrigam cerca de 16,4 milhões de pessoas, superando a população de grandes cidades como São Paulo e Rio de Janeiro. Caracterizadas por ocupações irregulares e carência de serviços públicos, as favelas se encontram em condições precárias que as tornam especialmente vulneráveis a eventos climáticos extremos, evidenciando a intersecção entre pobreza, raça e meio ambiente.
A distribuição racial nas favelas também nos chama atenção para as desigualdades estruturais do país: os dados do IBGE destacam a predominância de pardos e pretos em comparação com a população branca nesses territórios. A herança histórica de quase quatro séculos de escravidão no Brasil ressoa nesses números, sublinhando a urgência de enfrentar o racismo ambiental e social que perpetua a marginalização e vulnerabilidade de comunidades racializadas.
Neste contexto, a necessidade de ações concretas e coletivas se faz imperativa. Setores diversos, como a indústria da moda, devem repensar suas práticas para contribuir efetivamente na mitigação da crise ambiental. A produção em massa de roupas, que impacta diretamente o meio ambiente, demanda uma revisão desde as matérias-primas até o descarte final, evidenciando os efeitos nocivos da produção linear e apontando para a urgência de práticas mais sustentáveis e responsáveis.
O movimento Fashion Revolution Brasil destaca a necessidade de maior transparência e ação por parte das marcas de moda, especialmente no que tange à promoção da igualdade racial e étnica em suas cadeias de produção. A representatividade, os direitos dos trabalhadores e a sustentabilidade ambiental são questões interconectadas que demandam atenção e comprometimento de todos os envolvidos na indústria fashionista.
Neste Dia da Consciência Negra, é crucial questionar e pressionar as marcas a refletirem sobre as condições e a diversidade das pessoas envolvidas em suas cadeias produtivas. A luta antirracista no universo da moda e além deve ser um compromisso de toda a sociedade, visando um futuro mais justo, igualitário e sustentável. A revolução será antirracista ou não existirá.