Propostas para acabar com Cracolândias em SP
Diversos candidatos à prefeitura de um município estão apresentando propostas para lidar com o problema do tráfico e abuso de drogas, que é um dos principais desafios da região. Nunes, Boulos, Datena, Tabata e Marina Helena discutem sobre a importância de ações abrangentes e eficazes para combater o epicentro desse tipo de crime na comunidade. Por outro lado, Marçal ainda não se pronunciou sobre o assunto, mantendo-se em silêncio em relação a esse tema crucial para a sociedade local.
Problema de segurança e saúde pública que aflige a população da capital paulista desde a década de 1990, a Cracolândia é o maior desafio presente na Agenda SP. A pauta envolve a atenção aos dependentes químicos, o combate ao tráfico de drogas e o enfrentamento do crime organizado instalado na região. Entretanto, a situação se tornou ainda mais grave com a dispersão dos usuários de drogas em 2022. Segundo levantamento realizado pelo governo, São Paulo tinha registrado 72 concentrações de dependentes distribuídos em 47 bairros, no primeiro semestre de 2023. A análise feita entre 1º de janeiro a 20 de agosto de 2024 os principais questionamentos feitos em torno da Cracolândia, instalada no centro da capital. Entre as principais buscas estão perguntas sobre a localização da concentração de usuários, o número de pessoas presentes na região, a expansão do problema ao longo dos anos e desde quando a situação existe. Com base nas pesquisas feitas no buscador, o Estadão perguntou às campanhas dos candidatos que se sobressaem na corrida pela Prefeitura de São Paulo quais são as propostas para acabar com a calamidade e revitalizar o centro da capital atingido pela venda e consumo de drogas. Veja as propostas de Ricardo Nunes (MDB), Guilherme Boulos (PSOL), José Luiz Datena (PSDB), Tabata Amaral (PSB) e Marina Helena (Novo).
Pablo Marçal não se manifestou sobre suas propostas para o tema. Ricardo Nunes A campanha do atual prefeito diz que sua política de gestão para a Cracolândia já vem adotando uma abordagem multissetorial, combinando ações articuladas de segurança, saúde, assistência social e direitos humanos na região central. De acordo com a equipe de Nunes, um levantamento recente mostra uma média de 900 pessoas, enquanto, em 2016, havia uma concentração de quase 4 mil pessoas. O grupo atribui a redução do número de usuários à abordagem e à ampliação do acesso às internações voluntárias para dependentes. “Os pilares continuam os mesmos: combate ao tráfico de drogas e tratamento para as pessoas. Com o uso de drones, as equipes registram a diminuição das cenas de uso a céu aberto”, afirma a campanha, que diz ter como uma das bases o Programa Redenção, em execução desde 2018. A equipe de Nunes diz que existem 4.133 vagas de internação disponibilizadas pela Prefeitura e pelo governo estadual. “Além disto, temos a atuação dos 7 CAPS entregues e 30 equipes do Consultório de Rua, o que se soma às mais de 8 mil abordagens realizadas por mês pelo Redenção Na Rua. É um trabalho de perseverança, que deve continuar com base na parceria entre a administração municipal, a gestão estadual e a sociedade civil, para tratar de um problema de saúde pública e segurança”, comentam.
Boulos Na visão da campanha do deputado, é preciso atuar de forma permanente em três frentes. A primeira, é tratar o tema como uma questão social e de saúde pública, garantindo atendimento acolhedor aos usuários por profissionais multidisciplinares, como médicos, assistentes sociais e psicólogos. “Para isso, vamos criar os CAPS Móveis, que serão consultórios de rua que irão até o usuário oferecer tratamento, além de atuar pela retomada dos laços familiares”, explicam. A segunda frente proposta pela campanha é garantir perspectiva para as pessoas imersas na situação. O plano para administração de Boulos é implementar um programa de recuperação social e geração de emprego para aqueles em tratamento nos CAPS Móveis, promovendo capacitação e parcerias com empresas e comerciantes da região. “Além disso, vamos cadastrá-las nos programas de moradia da Prefeitura e do Minha Casa Minha Vida, para que tenham moradia digna”, diz a campanha. A terceira frente apresentada é combater o tráfico e impedir que a droga chegue aos usuários, numa parceria entre governo estadual, federal e Guarda Civil Municipal (GCM), que terá o reforço de uma inspetoria especial para o Centro, cobrindo Luz, Campos Elíseos e Santa Efigênia.
Datena O apresentador diz que, caso eleito, pretende tratar a Cracolândia de forma integrada por diferentes áreas da administração municipal, em parceria com as forças de segurança estadual e federal, Ministério Público e Justiça para bloquear o fornecimento de drogas no centro de São Paulo e nos outro pontos de concentração espalhados pela cidade. “Não vai ter trégua para o tráfico. A GCM vai ser reforçada, melhor treinada, equipada com armamentos de ponta para enfrentar o poder de fogo dos criminosos e terá um setor de inteligência atuante nas investigações contra traficantes”, responde Datena.
Tabata Amaral Para a deputada federal, a Cracolândia não deve ser vista como um lugar, mas sim um sistema que lucra pelo menos R$ 200 milhões por ano e que está espalhado por mais de 70 pontos da cidade, com a presença de bandidos e também de doentes. Para Tabata, os governos anteriores falharam porque escolheram um único lado para focar. “Nós vamos enfrentar esse problema por inteiro”, diz. Os planos de Tabata envolvem a integração das forças policiais e o uso de tecnologia e inteligência para entender como o sistema criminoso se organiza, para assim definir metas. Ela também fala sobre garantir o fechamento de estabelecimentos envolvidos com o tráfico, investigação de denúncias de agentes públicos ligados ao esquema e identificação da origem da lavagem de dinheiro. A campanha da candidata ressalta que os usuários devem receber atendimento especializado em dependência química e saúde mental, combinado com estratégias de moradia e assistência social para afastá-los do fluxo. A equipe também diz que a gestão planeja construir um plano de reestruturação da vida das pessoas afetadas pelo vício e acabar com a “porta giratória”, ou seja, quando um usuário é internado e depois acaba voltando para o fluxo. “Vamos tratar isso na origem e individualizar o atendimento. Hostilidade e violência com essas pessoas só alimentam o sistema, porque dificultam a aproximação e conversa com quem está precisando de ajuda”, responde.
Marina Helena A economista diz que, em parceria com o governo estadual, sua administração agirá com tolerância zero e perseverança contra quem vende drogas a céu aberto em São Paulo. “Estabeleceremos parcerias eficientes com instituições e o governo do Estado, promovendo um tratamento que evite a reincidência dos usuários”. Ricardo Nunes Para a campanha do atual prefeito a internação compulsória tem que ser prevista assim como são as demais modalidades. “Se a pessoa está lá, vivendo na Cracolândia há cinco anos, sendo consumida pela droga, é compromisso do poder público oferecer suporte, seja qual for o modelo”, argumentam. A equipe também diz considerar a discussão muito mais ideológica do que prática. “Hoje, temos as equipes multissetoriais que fazem o trabalho excelente abordando e convencendo as pessoas. O melhor método para qualquer tratamento é o convencimento, mas não deixaremos as pessoas morrerem lá sem amparo”.
Boulos Para o deputado, a internação compulsória não é uma decisão política, mas sim uma decisão médica. A campanha do psolista diz que cada caso deve ser avaliado por equipes especializadas e critica as medidas tomadas por Nunes. “A abordagem violenta da atual gestão foi um fracasso. Por isso, vamos buscar a retomada de vínculos familiares dos usuários de crack, com tratamento humanizado, envolvendo assistência social, moradia e trabalho”, comenta. Datena Segundo a equipe do apresentador, os dependentes químicos serão acolhidos de maneira humanizada pelos serviços sociais da prefeitura e receberão tratamento digno para se livrar das drogas. “Internação compulsória será admitida somente nas situações em que, comprovadamente, o indivíduo não tem condições de discernir sozinho sobre o problema, com laudo médico e aprovação da Justiça”. Tabata Amaral A candidata diz ser a favor da internação compulsória, desde que seja uma decisão médica e respeite um tratamento humanizado e individualizado, em vez de uma decisão política. “Nós vamos oferecer equipes de assistência social que conheçam as pessoas pelo nome e busquem reconectá-las com suas famílias e histórias, assim como atendimento de saúde especializado em dependência química e saúde mental”, dizem. Marina Helena A economista se diz a favor da internação compulsória. Marina argumenta que maior parte dos integrantes da Cracolândia está lá há mais de 5 anos e não responde mais por si. “Com o acompanhamento de familiares e médicos, precisamos resgatar a vida e a liberdade dessas pessoas”. Ricardo Nunes A campanha do atual prefeito afirma que o centro da capital já passa por um processo de revitalização que começou em 2018, que teve início com o Novo Vale do Anhangabaú, a entrega das fases 2 e 3 da Praça das Artes e a instalação do Parque Augusta-Bruno Covas. De acordo com a equipe, outras ações, como a reabertura da Vila Itororó e a concessão do Mercadão e do Terraço do Martinelli, contribuem para completar um roteiro turístico do centro histórico. “A inauguração do Parque Princesa Isabel, a requalificação da Praça da Sé e do Largo do Arouche, bem como a reforma do Calçadão da Cleveland, o retrofit do Hotel Cambridge e do Lord Hotel são qualificações do espaço urbano que trazem visitantes, além de atrair a instalação de investidores e novos escritórios para a região”, comenta. Segundo a campanha, estão previstos para a próxima gestão o VLT Central, a recuperação das escadarias da Avenida Nove de Julho e da Casa das Retortas, a revitalização do Parque Dom Pedro II, o futuro Parque do Bixiga e a nova sede do governo do Estado.
Boulos Para a equipe do deputado, para resolver a Cracolândia é preciso ação contínua e permanente, evitando rupturas e consolidando a atenção do poder público nas três frentes – acolhimento humanizado, emprego e moradia e segurança pública em parceria com os governos estadual e federal. “Não tem bala de prata, mas é possível mudar a realidade na região”. A campanha menciona o programa Novo Centro, que promete ajudar na recuperação do entorno da Cracolândia, a partir do fortalecimento da vocação baseada na economia criativa e no lazer, implantando um circuito turístico, gastronômico e cultural no centro. “Vamos investir em programas de retrofit de prédios públicos abandonados para mudar as áreas atualmente degradadas, e recuperar as ruas comerciais, estabelecendo um circuito de compras em parceria com o Ministério do Turismo em ruas do Brás, Bom Retiro, 25 de Março e Santa Efigênia”, responde. Datena O apresentador considera que o processo será complementado por políticas de desenvolvimento econômico nas regiões afetadas, com projetos de requalificação urbana e incentivos fiscais para os comerciantes.
Tabata Amaral A candidata diz que planeja criar um órgão executivo na Prefeitura voltado para a requalificação do centro, recuperando a região onde fica o epicentro da Cracolândia. Entre as medidas sob responsabilidade desse órgão está encontrar uso para os 20% de imóveis vazios na localidade, por meio da ampliação do aluguel social e requalificação habitacional junto às entidades sem fins lucrativos. Tabata também diz que pretende criar o Distrito Eletrônico da Santa Ifigênia, para atrair empresas de tecnologia, instituições de pesquisa científica, startups, incubadoras e aceleradoras para a região, tornando o espaço um ambiente propício ao desenvolvimento tecnológico e inovação. “Tenho também um compromisso com uma zeladoria intensa na região e um programa de recuperação das calçadas com grande fluxo de pedestres”, diz. Marina Helena “Depois que as Cracolândias da cidade forem extintas, os imóveis passarão por uma valorização natural”, diz a economista.