Proposta de governo eleva tributo sobre lucro de empresas.
O ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, propôs que, caso as medidas sugeridas pelo Senado para aumentar a arrecadação não sejam capazes de compensar a desoneração da folha de pagamento, seria necessário considerar um aumento na Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL). Esta estratégia visaria equilibrar as contas públicas e garantir a viabilidade financeira da proposta de desoneração tributária.
BRASÍLIA – Durante uma reunião nesta quarta-feira, 10, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, propôs ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e ao líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), a implementação de um mecanismo de “gatilho” para o aumento da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL). Segundo fontes próximas às discussões consultadas pelo Estadão/Broadcast, essa medida seria acionada somente se as receitas resultantes das medidas propostas pelo Senado para compensar a desoneração da folha de pagamento se mostrassem insuficientes.
A ideia é que, após dois meses, a Receita Federal calcularia o montante arrecadado com as quatro propostas já anunciadas pelo Senado. Caso esses valores não fossem suficientes para cobrir a desoneração, o governo poderia aplicar o aumento na CSLL sobre o lucro das empresas. A desoneração da folha de pagamentos foi implementada em 2011, direcionada a setores intensivos em mão de obra e impactando milhares de empresas que empregam cerca de 9 milhões de pessoas.
Mesmo com votações expressivas prorrogando a política de desoneração até 2027, uma decisão liminar do STF suspendeu a medida por falta de previsão de fonte de receitas para subsidiar o programa. O Congresso alega que já aprovou medidas para aumentar as receitas da União e estipulou o impacto do benefício nas contas públicas.
Diante desse contexto, o ministro da Fazenda anunciou um acordo para manter a desoneração até 2024, com a possibilidade de uma cobrança gradual a partir do próximo ano. No entanto, alguns impasses surgiram quanto à aplicação do mecanismo de “gatilho” da CSLL, especialmente em relação ao prazo de implementação e aos valores a serem compensados.
Uma alternativa discutida no Palácio do Planalto seria buscar uma solução conjunta com o Supremo Tribunal Federal para considerar a compensação da desoneração de 2024 a 2027 de forma unificada, evitando a necessidade de cobrir uma renúncia fiscal anualmente. O valor de R$ 50 bilhões de renúncia vem sendo mencionado nessas discussões para o período completo.
Apesar disso, o Ministério da Fazenda expressa preocupações quanto a essa proposta, alegando possíveis impactos no resultado primário. A equação completa para a implementação desse mecanismo ainda não está definida, mas fontes envolvidas no processo indicam que o governo poderá aumentar a alíquota da CSLL se a meta de arrecadação não for atingida após o cálculo da Receita Federal.
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, demonstrou receptividade à proposta durante a reunião com autoridades do governo. Porém, interlocutores negam que tenha havido um avanço significativo nas negociações, citando a manutenção do discurso contra o aumento de tributos sobre o setor produtivo.
Com um prazo iminente para encontrar uma solução, os governistas já consideram necessária uma prorrogação do prazo estipulado pelo ministro Cristiano Zanin, do STF, para a definição de uma compensação para a desoneração. O governo só deve apoiar essa extensão se um acordo prévio com o Congresso estiver estabelecido até lá.