Novo disco de sonoridade amazônica reflete a resistência da Flor de Mururé
O cantor e compositor paraense lança um novo álbum que mergulha profundamente nas raízes espirituais e ancestrais. Com letras e melodias que celebram a conexão com a espiritualidade e a herança cultural, o artista busca transmitir mensagens de reflexão e conexão com as tradições de seu povo. O trabalho do artista reflete não apenas sua habilidade musical, mas também sua sensibilidade em explorar temas que remetem à identidade e história de sua região.
Flor de Mururé lança o álbum Croa, fruto de sua jornada musical marcada pela combinação entre estudos de música e imersão na cultura popular. O artista revela que o título “Croa” remete a ideia de coroa, cabeça, ori, simbolizando a importância de ter discernimento para enfrentar os desafios da vida e trilhar o próprio caminho.
Transgênero, Flor deixou a casa dos pais aos 16 anos, em meio a conflitos familiares, e ao mesmo tempo, encerrou seus estudos no renomado Conservatório Carlos Gomes, em Belém, após uma década dedicada ao aprendizado de violão, canto coral, violino e flauta. Foi pelas ruas da capital paraense que o artista se conectou com a cultura popular, através das rodas de carimbó, manifestações que representam resistência em um contexto urbano desprovido de espaços para tais expressões.
As composições do álbum são reflexo da caminhada espiritual de Flor de Mururé, mesclando elementos de fé com ritmos ancestrais e amazônicos. Com a direção musical do experiente André Magalhães, o disco apresenta uma rica sonoridade, incorporando batuques, carimbó, guitarrada, além de influências do coco e de outros ritmos urbanos.
Considerando o Croa como um manifesto LGBTQIA+, o artista destaca que, antes de tudo, a obra é um manifesto pela vida, pela importância de estar vivo. Cantar da maneira mais autêntica possível, ao lado de pessoas talentosas, é uma forma de manifesto para Flor de Mururé, que defende a valorização do próprio corpo e da existência em um contexto de constante subjugação.
O álbum conta com colaborações especiais de artistas como Tiganá Santana da Bahia, o grupo pernambucano Bongar, o paraense Trio Manari e o mestre da guitarrada Manoel Cordeiro. Além disso, diversas participações de artistas transgênero enriquecem o projeto, evidenciando o compromisso de Flor de Mururé em representar e fortalecer a comunidade LGBTQIA+.
Flor de Mururé enxerga a Amazônia como uma espécie de periferia dentro do Brasil, e se reconhece como uma voz marginalizada dentro dessa periferia, enfrentando desafios e conflitos cotidianos. O artista ressalta que sua jornada é impulsionada pelo amor à música, uma paixão que o acompanha há anos e que o motiva a seguir em frente, apesar das adversidades.
O álbum Croa já está disponível em diversas plataformas musicais, sendo viabilizado pelo patrocínio da Natura Musical e do governo do Pará, através da Lei Semear e da Fundação Cultural do Pará. Flor de Mururé e mergulhar nesse universo sonoro e poético tão singular.