Medicamento contra HIV tem eficácia total em estudo

Uma pesquisadora apontou que a injeção que precisa ser administrada a cada seis meses apresentou uma eficácia superior na proteção contra o vírus se comparada a outros dois medicamentos disponíveis. Segundo ela, essa nova opção de tratamento pode ser uma estratégia viável para incentivar a adesão ao uso da profilaxia pré-exposição (PrEP), trazendo benefícios significativos para a prevenção de doenças sexualmente transmissíveis.

Em ensaio clínico, a injeção semestral de lenacapavir demonstrou 100% de eficácia na prevenção contra infecção por HIV Reprodução: https://www.cnnbrasil.com.br

Um novo medicamento injetável para a prevenção do HIV apresentou uma eficácia de 100% em mulheres cisgênero, conforme apontado por um extenso ensaio clínico realizado na África do Sul e Uganda. A injeção, administrada a cada seis meses, mostrou-se mais eficaz na proteção contra a infecção se comparada a outros dois medicamentos de profilaxia pré-exposição (PrEP). O medicamento, denominado lenacapavir, foi submetido a testes de eficácia e segurança no ensaio clínico PURPOSE 1, conduzido em três locais na Uganda e 25 locais da África do Sul. O estudo avaliou o desempenho do novo PrEP em comparação a outras duas medicações já utilizadas para prevenir a infecção por HIV, ambos em formato de comprimidos para uso diário.

O lenacapavir atua como inibidor de fusão capside, interferindo no capsídeo do HIV, uma cobertura de proteína que resguarda o material genético do vírus e as enzimas essenciais para a replicação. Sua administração é feita por via injetável, sob a pele, necessitando de aplicação apenas duas vezes por ano. Merdad Parsey, diretor médico da Gilead Sciences – empresa responsável pelo desenvolvimento do medicamento – expressou otimismo em relação aos resultados obtidos: “Com zero infecções e 100% de eficácia, o lenacapavir semestral demonstrou seu potencial como uma nova ferramenta importante para ajudar a prevenir infecções por HIV”.

No ensaio clínico, o lenacapavir foi comparado ao Truvada F/TDF, um comprimido diário amplamente usado por mais de uma década como PrEP, e ao Descovy F/TAF, uma formulação diária semelhante ao Truvada, porém mais recente e com propriedades farmacocinéticas aprimoradas. Mulheres entre 16 e 25 anos foram aleatoriamente designadas para receber um dos três medicamentos, sendo que o estudo foi conduzido de maneira duplo-cega, ou seja, nem as participantes, nem os pesquisadores sabiam qual tratamento estava sendo administrado até o final do teste.

De acordo com os dados, nenhuma das 2.134 mulheres que receberam lenacapavir contraiu HIV, alcançando uma eficácia de 100% na prevenção da infecção. Em contrapartida, 16 das 1.068 mulheres que consumiram Truvada (1,5%) e 39 das 2.136 que utilizaram Descovy (1,8%) contraíram o vírus. Linda-Gail Bekker, diretora do Desmond Tutu HIV Center na Universidade da Cidade do Cabo, destacou a importância do lenacapavir como uma nova opção crucial para prevenção do HIV, especialmente para mulheres cisgênero.

Ainda existe um desafio em reduzir as novas infecções por HIV no mundo, com 1,3 milhões de casos registrados no ano passado, de acordo com o UNAIDS. Além da PrEP, outras formas de combate à Aids incluem o acesso e utilização de preservativos, tratamentos para infecções sexualmente transmissíveis e autoteste de HIV. Os estudos clínicos do Purpose 1 serão continuados em uma fase de “rótulo aberto”, permitindo aos participantes escolherem sua preferência de PrEP à medida que o estudo avança. O estudo Purpose 2, por sua vez, está sendo realizado em diversos países, inclusive no Brasil, e seus resultados deverão ser divulgados em breve.

Caso os resultados sejam positivos em ambos os estudos, o lenacapavir poderá ser aprovado como PrEP e incluído nos registros regulatórios para garantir seu uso em diferentes populações e comunidades que necessitam de opções adicionais de prevenção ao HIV. A Organização Mundial da Saúde (OMS) analisará os dados e poderá emitir recomendações sobre o medicamento, podendo incorporá-lo em suas diretrizes de prevenção do HIV.

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