Lula afirma que Venezuela tem governo autoritário
O presidente brasileiro reiterou sua posição de que só poderá aceitar a legitimidade do resultado das eleições presidenciais na Venezuela mediante a apresentação das atas eleitorais. Este posicionamento reflete a importância que o governo atribui à transparência e lisura do processo eleitoral no país vizinho, ressaltando a necessidade de documentação oficial como prova dos resultados proclamados.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do Partido dos Trabalhadores (PT), emitiu uma declaração nesta sexta-feira, 16, sobre a situação política da Venezuela, descrevendo-a como um regime “desagradável” com inclinações autoritárias, mas evitando rotular o governo de Nicolás Maduro como uma ditadura. Em uma entrevista à rádio Gaúcha de Porto Alegre, Lula compartilhou sua perspectiva: “Eu acho que a Venezuela vive um regime muito desagradável. Não acho que é ditadura, é diferente de ditadura. É um governo com viés autoritário, mas não é uma ditadura como conhecemos em tantos países nesse mundo”. O ex-presidente também enfatizou que para reconhecer o resultado das eleições presidenciais venezuelanas, é fundamental a apresentação das atas das mesas de votação, algo que o governo venezuelano ainda não fez.
Lula destacou a importância da transparência no processo eleitoral, afirmando: “Eu só posso reconhecer se provarem que foi democrática, se mostrarem a prova de que foi limpa”. Ele revelou que o governo venezuelano chegou a solicitar que Celso Amorim, assessor especial da Presidência responsável pelas negociações com o país, não fosse enviado a Caracas durante as eleições. Lula deixou claro que comunicaria à imprensa sobre qualquer impedimento nesse sentido. Além disso, ressaltou que a recusa de Maduro em permitir a entrada de observadores internacionais seria prejudicial para ele.
Sobre a postura do Brasil em relação às eleições na Venezuela, Lula mencionou que não irá restringir o direito de Maduro de se expressar, mas lembrou da transparência do sistema eleitoral brasileiro, onde é possível verificar os resultados de cada urna eletrônica pela internet. As eleições presidenciais venezuelanas, realizadas em 28 de julho, geraram controvérsias, com a oposição alegando ter vencido com uma grande margem de votos, enquanto o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), alinhado ao chavismo, declarou a vitória de Maduro com 51% dos votos.
A falta de divulgação das atas das mesas de votação tem sido alvo de críticas da comunidade internacional, que defende a transparência e a verificação dos resultados. Brasil, Colômbia e, anteriormente o México – que se retirou das negociações – têm liderado esforços para promover conversas entre as partes, porém sem avanços concretos até o momento. A proposta de novas eleições ou de um governo de coalizão, mencionadas por Lula e pelo presidente colombiano, Gustavo Petro, são consideradas como ensaios de propostas, sem uma definição concreta.
As autoridades brasileiras buscam sinais de disposição por parte de Maduro para negociar, sendo que a possível ligação telefônica solicitada pelo presidente venezuelano a Lula ainda está pendente, aguardando tais sinais, segundo fontes ouvidas pela Reuters.