Impactos das drogas sintéticas no corpo
Novas substâncias têm sido identificadas por pesquisadores em território brasileiro, conforme revelam estudos recentes.
Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) realizaram um estudo que identificou a presença do opioide sintético nitazeno – uma substância que é 500 vezes mais potente que a heroína – em drogas apreendidas na cidade de São Paulo. Esse achado representa a primeira detecção desse composto no Brasil. O crescimento no mercado de drogas sintéticas tem sido observado nos últimos anos, conforme relatam autoridades de saúde. Entre essas substâncias, uma das mais conhecidas é a chamada “maconha sintética”, popularmente conhecida como K2 ou K9, além de outros nomes. Apenas no decorrer deste ano, os serviços de saúde da capital paulista registraram 483 episódios de possíveis casos de consumo dessas substâncias, com uma média superior a dois casos notificados por dia. Todos esses dados são alertas importantes sobre a expansão do uso e comércio de drogas sintéticas.
O médico Álvaro Pulchinelli, especialista em toxicologia no laboratório Toxicologia Pardini, destacou que atualmente mais de 120 tipos de canabinoides são conhecidos, sendo frequente a introdução de novas substâncias no mercado. Ele ressalta que um dos principais pontos de preocupação no consumo dessas drogas é a falta de compreensão sobre seus efeitos, tanto do ponto de vista clínico quanto laboratorial. Pulchinelli destaca os desafios em identificar e entender o impacto dessas substâncias no organismo, enfatizando que as drogas sintéticas costumam ter uma ação mais intensa, proporcionando um efeito mais “pesado” aos usuários. Ele explica que a droga sintética é projetada para interagir com receptores cerebrais específicos, o que a diferencia das drogas naturais pela potência exacerbada.
O toxicologista ressalta que, embora os efeitos a longo prazo dependam de diversos fatores, incluindo o tipo de substância e o contexto do consumo, o padrão de dependência e os danos ao sistema nervoso central são comuns a todas as drogas, sejam sintéticas ou naturais. Ele alerta para os riscos associados ao uso simultâneo de diferentes substâncias, como o exemplo do “cocaetileno”, uma combinação perigosa de cocaína com álcool. Pulchinelli também destaca a importância de abordagens específicas de tratamento para usuários de drogas que levem em consideração os diferentes estágios de dependência e os riscos de overdose associados às drogas sintéticas.
Em casos de overdose ou abuso, a identificação rápida e precisa da substância envolvida é crucial para determinar o tratamento adequado e reduzir o risco de complicações graves. O especialista ressalta que a falta de informações claras sobre a droga consumida pode dificultar o atendimento médico e a aplicação de medidas eficazes. Pulchinelli destaca a importância do acompanhamento médico em todas as fases do tratamento, desde a intervenção aguda até a reabilitação do usuário crônico. Ele enfatiza a necessidade de assistência especializada e personalizada para lidar com os desafios decorrentes do uso de drogas sintéticas e reforça a importância do apoio de uma equipe multidisciplinar de profissionais de saúde nesses casos delicados.
Em suma, a pesquisa realizada pelos pesquisadores da USP e Unicamp traz à tona questões fundamentais sobre a proliferação de drogas sintéticas e os desafios enfrentados pelas autoridades de saúde no combate ao uso indiscriminado dessas substâncias. A educação e conscientização da população, aliadas a estratégias eficazes de prevenção e tratamento, são essenciais para lidar com essa problemática crescente e proteger a saúde e o bem-estar da sociedade como um todo.