Impactos da alta do dólar e a necessidade de intervenção do Banco Central

Notas de dólar Reprodução: https://www.cnnbrasil.com.br

A alta do dólar fechou a semana atingindo a maior cotação desde janeiro de 2022, sendo cotado a R$ 5,58. O real apresentou o pior desempenho entre as moedas de países emergentes, com uma elevação de 1,46%, muito acima do valor de cerca de 0,30% observado em moedas de países como Rússia, Peru e Argentina, que registraram desvalorização em relação ao dólar.

Essa valorização da moeda norte-americana ultrapassou os 15% no primeiro semestre deste ano, sendo menor apenas do que a alta superior a 35% ocorrida entre janeiro e junho de 2020, durante o auge da pandemia de covid-19.

Analistas econômicos já estão caracterizando esse cenário como um ‘overshooting’, ou seja, uma desvalorização que não condiz com os fundamentos econômicos do país. Segundo especialistas consultados, as declarações do presidente Lula em relação ao Banco Central e a resistência em realizar cortes de gastos em seu governo são apontadas como os principais motivos para o aumento abrupto do câmbio.

A reação de Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, criticando a política fiscal do governo e apontando que a postura de Lula piora a situação, agravou ainda mais a percepção de risco em relação ao país. Já em Brasília, começam a surgir sinais de preocupação com a inação do Banco Central diante desse cenário.

O Brasil adota o regime de câmbio flutuante, sem uma meta estabelecida para o valor do dólar. Historicamente, o Banco Central intervém no mercado cambial em casos de disfuncionalidade na formação do preço da moeda estrangeira. Porém, para Sergio Goldstein, estrategista-chefe da Warren Investimentos, a situação atual vai além, caracterizando um ‘overshooting’, o que sugere um mercado não funcional.

Neste contexto, Gabriel Galípolo, diretor de Política Monetária do BC, destaca que a desvalorização cambial tem impacto direto na inflação e gera preocupações para a autoridade monetária. Ele ressalta que o câmbio elevado indica uma desinflação mais lenta ou onerosa. Com a agenda econômica da próxima semana esvaziada, há espaço para reações em relação ao cenário político. Economistas consultados temem que, caso o presidente Lula mantenha as críticas ao BC e a resistência em cortar despesas, o real continue se desvalorizando.

A atual situação cambial já impõe riscos de aumento da inflação ao longo deste ano, o que poderia afetar as projeções para o IPCA de 2025 e 2026. Esse cenário indica que a taxa de juros não deverá voltar a cair tão cedo, sendo necessário uma ação estratégica para conter os impactos negativos da alta do dólar.

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