Geopolítica apresenta desafios e oportunidades para a indústria
O Brasil enfrenta obstáculos na expansão de sua economia devido à redução da colaboração internacional. No entanto, mesmo diante desse cenário desafiador, o país pode se beneficiar da sua vocação em setores estratégicos para aproveitar as oportunidades advindas do avanço da agenda de redução de emissões de carbono. Dessa forma, é possível vislumbrar caminhos para impulsionar o desenvolvimento econômico nacional, alinhado com as demandas globais por sustentabilidade e preservação ambiental.
O Fórum Estadão Think sediou um importante debate sobre os desafios e oportunidades enfrentados pela indústria brasileira diante do atual cenário geopolítico turbulento. Realizado no salão nobre da Fiesp, em São Paulo, o segundo painel do evento reuniu representantes do setor para discutir estratégias de inserção global do Brasil.
Welber Barral, consultor em comércio internacional, destacou que o avanço da agenda de descarbonização representa uma grande oportunidade para o país. Ele ressaltou a importância de estabelecer um marco regulatório global de incentivos ao SAF, biodiesel e hidrogênio, visando uma transição energética alinhada com o desenvolvimento sustentável. Além disso, Barral enfatizou a sólida posição do Brasil na produção de alimentos, apontando a crescente demanda por proteínas como uma oportunidade para ampliar a participação no mercado e agregar valor às exportações.
No entanto, o consultor alertou para os desafios impostos pela alta taxa de juros no país, que acaba impactando projetos de médio e longo prazo, sobretudo nos setores de energia e infraestrutura. Yi Shin Tang, professor da USP, previu um aumento no custo de capital devido às recentes eleições nos Estados Unidos, mas ressaltou que as políticas brasileiras de acesso comercial e desvalorização cambial ainda mantêm o país competitivo na exportação.
Dan Ioschpe, vice-presidente da Fiesp, destacou que o mundo passa por um processo de redução da globalização, mas não de extinção, e ressaltou a importância da descarbonização como uma das vantagens estratégicas do Brasil. Ele enfatizou a necessidade de o país se organizar para aproveitar essa oportunidade única. Por sua vez, Jorge Arbache, professor de Economia da UnB, alertou para os riscos decorrentes da disputa entre China e Estados Unidos, que podem afetar os mercados globais e o Brasil.
Arbache apontou o movimento de “desglobalização” como uma ameaça aos interesses do país, gerando instabilidade nos mercados e afetando o acesso a eles. Ele ressaltou que a formação de preços passa a depender muitas vezes de decisões que fogem à lógica de mercado, aumentando os riscos para investidores e empreendedores. Nesse contexto, a economia verde surge como uma oportunidade de expansão em meio às incertezas do cenário global.