Gastos federais, Selic e dólar impactam consumidor
Doutos analistas dissecam a relação entre os componentes e seu impacto no poder aquisitivo da população.
A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) e o pacote de corte de gastos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva foram temas bastante explorados nos noticiários sobre economia durante a primeira quinzena de novembro.
Embora tais assuntos possam parecer distantes do dia a dia do cidadão comum, especialistas ressaltam que eles desencadeiam uma série de eventos que impactam diretamente o consumidor.
O diretor de Research da Quantzed, Leandro Petrokas, explica que, no caso do dólar, os efeitos se estendem desde o valor das commodities até os custos de frete. Países como o Brasil, que não têm o dólar como moeda principal, mas negociam utilizando-o, são afetados pelas oscilações da moeda em transações internacionais. Isso pode resultar no encarecimento de commodities brasileiras como trigo, carne bovina, suco de laranja, café, algodão, soja e milho no mercado interno, uma vez que os exportadores podem obter maiores lucros ao direcioná-los para o mercado externo.
Adicionalmente, os efeitos também se refletem nos custos de frete, visto que empresas aéreas, por exemplo, podem ajustar os valores das passagens e fretes devido à influência da flutuação do dólar no preço do combustível. Petrokas destaca que o combustível de aviação, amplamente negociado em dólar em todo o mundo, está sujeito a essas variações.
No que diz respeito ao aumento da Taxa Selic, decidido pelo Copom no início de novembro, os efeitos para os consumidores não devem ser imediatamente percebidos. A economista e professora do Insper, Juliana Inhasz, prevê que tais impactos só serão notados daqui a alguns meses. Ela esclarece que, embora o aumento tenha sido modesto, é esperado que mais elevações na taxa de juros ocorram.
Na prática, o consumidor poderá enfrentar maior dificuldade para obter empréstimos e financiamentos, além do lento crescimento econômico. Juliana ressalta que taxas de juros elevadas resultam em baixos investimentos produtivos e escasso crescimento econômico, fatores que também podem reduzir a criação de empregos.
O Governo Federal busca aprovar um novo pacote de cortes de gastos visando equilibrar as contas públicas. Mas por que essa necessidade de ajuste? Basicamente, o governo gasta mais do que arrecada. Juliana observa que esse cenário é agravado pelas altas taxas de câmbio e juros.
Petrokas complementa a discussão sobre a importância de um corte eficiente. Ele alerta que sem um pacote sólido de redução de despesas, é provável que as taxas de juros e câmbio permaneçam elevadas, levando à inflação, que por sua vez exigirá ações por meio da taxa de juros. O especialista avalia que a situação econômica pode melhorar a depender da eficácia e aprovação do pacote de cortes. Contudo, ele também enfatiza que, caso Lula não consiga implementar essas medidas de austeridade neste momento político, dificilmente terá outra oportunidade antes das eleições de 2026.