Consumo consciente não salvará o mundo, mas exige transparência
A falta de transparência e rastreabilidade na indústria da moda continua sendo um desafio significativo para o avanço do consumo consciente, tornando a prática muitas vezes apenas uma estratégia superficial de marketing, mais conhecida como greenwashing.
O “Dia do Cliente” é celebrado como uma oportunidade para fortalecer o relacionamento entre empresas e consumidores, mas por trás dessa data festiva há uma clara estratégia de estimular o consumo. Muitas marcas, valendo-se de apelos visuais e termos como “sustentável”, “amigo da natureza” e “verde”, transferem aos consumidores a responsabilidade pelos impactos ambientais de seus produtos. O discurso do consumo consciente, por vezes, serve como uma fachada para práticas de greenwashing em um setor marcado pela falta de transparência e comprometimento real com metas socioambientais.
Uma rápida pesquisa sobre o “Dia do Cliente” revela que a verdadeira intenção por trás dessa comemoração não está centrada em valorizar a relação entre marca e consumidor. Os resultados mostram claramente um foco em estratégias de vendas e aumento de lucros, sem mencionar a responsabilidade pelos impactos ambientais, sociais e econômicos derivados do estímulo ao consumo excessivo. A indústria da moda, em especial, tem se destacado nesse cenário, sendo um dos setores que mais lucram com as vendas online.
De acordo com a pesquisa “E-commerce Trends 2024”, roupas são os produtos mais vendidos na internet, com destaque para o segmento de moda outono-inverno que apresentou crescimento nas vendas. A falta de transparência e rastreabilidade na cadeia de produção é um desafio persistente, como apontam os dados do Índice de Transparência da Moda Brasil 2023. A lentidão no progresso de transparência das marcas evidencia a necessidade de maior comprometimento com práticas sustentáveis.
Campanhas publicitárias que associam produtos a valores socioambientais, como o “algodão mais sustentável”, buscam convencer os consumidores de um comprometimento da empresa com as questões ambientais e sociais. No entanto, dados como os do Índice de Transparência da Moda Brasil 2023 revelam que a transparência ainda é um desafio para muitas marcas. A divulgação de informações sobre políticas e ações efetivas em prol do meio ambiente são cruciais para promover uma mudança real no setor.
A transparência e rastreabilidade são ferramentas essenciais para evitar danos ambientais, como desmatamento e contaminação de recursos hídricos, e garantir que a cadeia de fornecimento esteja livre desses impactos. O compromisso com metas socioambientais, que incluem a descarbonização da produção, equidade de gênero, entre outras, é fundamental para garantir uma indústria da moda mais sustentável e responsável.
O conceito de “consumo consciente” é debatido diante da falta de opções que proporcionem produtos sustentáveis a preços acessíveis. As empresas precisam assumir a responsabilidade pelo impacto de seus produtos e serviços na sociedade e no meio ambiente. A transparência é o primeiro passo para uma mudança sistêmica na indústria da moda, incentivando a prestação de contas e a adoção de práticas mais sustentáveis.
No “Dia do Cliente”, em vez de apenas aproveitar descontos temporários, os consumidores são incentivados a cobrar transparência e comprometimento das marcas em relação às questões ambientais e sociais. Somente colocando em prática mudanças efetivas na cadeia de produção e adotando medidas concretas é possível combater a desigualdade global e a crise climática de forma significativa.