Aquecimento global intensificará ondas de calor no Brasil
Estudo do World Resource Institute aponta que o aumento da temperatura média global não só intensificará as ondas de calor, como também elevará os riscos de transmissão de doenças e impulsionará a demanda por energia em cidades brasileiras. Com a perspectiva de 3 °C de aquecimento em relação à era pré-industrial, o Brasil, atualmente enfrentando a pior seca de sua história, poderá enfrentar crises climáticas cada vez mais frequentes nos próximos anos resultando em caos sem precedentes.
A pesquisa do World Resource Institute sobre riscos ambientais aponta que o aumento da temperatura média global impactará diretamente as cidades brasileiras. Com a grave seca histórica que o Brasil enfrenta após meses de temperaturas acima da média, a perspectiva é de crises mais frequentes nas próximas décadas. Caso o planeta siga no ritmo atual de aquecimento de 3 °C em relação à era pré-industrial, as ondas de calor, propagação de doenças e aumento na demanda por energia para ar-condicionado terão efeitos devastadores. Essa análise foi revelada em um estudo divulgado pelo WRI.
O estudo considerou dados de 996 cidades com mais de 500 mil habitantes, sendo 32 brasileiras listadas, como Manaus, Belém, São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Porto Alegre e outras. Os pesquisadores avaliaram indicadores de risco nas áreas de saúde pública, infraestrutura e produtividade econômica para entender como as cidades reagem diante de diferentes cenários de aquecimento global. A diferença entre 1,5 °C e 3 °C de aquecimento é crucial, podendo afetar bilhões de pessoas em todo o mundo, conforme destacou Rogier van den Berg, diretor global do WRI Ross Center for Sustainable Cities.
Os impactos mais severos serão sentidos pelas populações mais vulneráveis, especialmente em regiões de baixa renda da África Subsaariana, América Latina e Sudeste Asiático. Com o planeta já 1,4 °C mais quente do que a era pré-industrial, as projeções indicam que 2024 poderá superar o recorde como o ano mais quente da história. O aumento das ondas de calor como resultado do aquecimento global será significativo, com previsões de um aumento na frequência e na duração desses eventos.
No Brasil, as 32 cidades analisadas devem sofrer com a intensificação das ondas de calor. Por exemplo, Cuiabá poderá enfrentar até 12 ondas de calor por ano, com algumas chegando a durar 32 dias. O cenário não será diferente em regiões mais ao Sul, como Curitiba, que pode sofrer com sete ondas de calor anualmente. Essas condições extremas tornam mais difícil a adaptação do corpo humano, podendo sobrecarregar sistemas cardiovascular, respiratório e urinário, além de agravar doenças associadas ao calor.
O aumento da temperatura também favorece a propagação de mosquitos transmissores de doenças, como dengue, febre amarela, zika e chikungunya. Os estudos apontam que, caso a temperatura global suba 3 °C, novas áreas do mundo se tornarão propícias para a proliferação desses vetores, com um aumento na duração dos períodos de transmissão. No Brasil, a situação tende a piorar, com estimativas de aumento no risco de infecção, como visto na epidemia de dengue enfrentada recentemente.
Além das questões de saúde, o aumento no consumo de energia para refrigeração é outro desafio. Com temperaturas mais altas, a demanda por ar-condicionado crescerá, impactando diretamente a necessidade de eletricidade. Países latino-americanos, como o Brasil, enfrentarão maiores desafios nesse sentido, com um aumento significativo na demanda por energia para climatização.
Diante desse cenário, investir em adaptações e soluções sustentáveis é fundamental para as cidades. A criação de áreas verdes urbanas, utilização de fontes de energia renovável, como solar e eólica, e a implementação de infraestruturas que reduzam a pegada de carbono são medidas apontadas como essenciais. O desafio é grande, mas a conscientização e a ação coordenada podem ajudar a minimizar os impactos do aquecimento global no ambiente urbano e na qualidade de vida das pessoas.