Afegãs protestam na web contra lei talibã

Um grupo de mulheres tem utilizado as redes sociais como plataforma para divulgar vídeos nos quais aparecem cantando. Em algumas publicações, elas optam por mostrar apenas partes do rosto, enquanto em outras preferem estar cobertas com véu, mantendo assim a sua identidade parcialmente oculta. Essa estratégia tem chamado a atenção do público e gerado discussões sobre a relação entre a arte, a identidade e a exposição nas mídias digitais.

De volta a Cabul. Na tentativa de demonstrar ao mundo uma feição mais moderada, o regime talibã autorizou a entrada da jornalista no país em 2022 – Imagem: Aamir Qureshi/Getty Images/AFP Reprodução: https://www.cartacapital.com.br/

O governo talibã, na semana passada, anunciou a promulgação de uma nova lei com o objetivo de “promover a virtude e prevenir o vício”, em conformidade com a Sharia, a lei islâmica. Essa legislação é composta por 35 artigos que estabelecem uma série de prescrições, principalmente relacionadas ao vestuário, e proibições para as mulheres, como cantar ou recitar poesias em público.

Em reação a essa imposição, mulheres afegãs dentro e fora do país têm utilizado as redes sociais para compartilhar vídeos onde aparecem cantando, acompanhados de legendas como “minha voz não será silenciada” e “não ao Talibã”. Em um desses vídeos, uma mulher vestida de preto da cabeça aos pés, com o rosto coberto por um longo véu, entoa uma melodia de origem desconhecida, mas que possivelmente tenha sido gravado no Afeganistão.

Zala Zazai, uma ex-policial que vive na Polônia, divulgou um vídeo no qual canta uma música da renomada artista afegã Aryana Sayeed, ressaltando a resiliência das mulheres do país. Em entrevista à AFP, Zazai afirmou que as restrições impostas às mulheres no Afeganistão são inaceitáveis e que as afegãs estão cada vez mais conscientes de que não podem ter seus direitos humanos negados em nome de religião ou cultura.

Diversos grupos de ativistas também têm se manifestado, alguns rasgando fotos do líder supremo talibã, o emir Hibatullah Akhundzada, enquanto entoam palavras de resistência. Em um desses vídeos, um grupo entoa: “A voz de uma mulher é a voz da justiça”. Outra ativista, identificando-se como Taiba Sulaimani, enfatiza em um vídeo a importância de a voz feminina não ser mais silenciada.

A nova lei determina que as mulheres afegãs não devem permitir que suas vozes sejam ouvidas fora de suas residências, fazendo com que, ao sair de casa por necessidade, estejam cobertas da cabeça aos pés e também silenciosas. O governo talibã considera as críticas à medida como demonstração de arrogância e falta de compreensão da Sharia.

No entanto, a ONU se posicionou contra a nova legislação, classificando-a como “totalmente intolerável” e reforçando a ideia de que políticas que silenciam as mulheres no espaço público são prejudiciais à sua autonomia e presença social. Organizações de direitos humanos expressaram preocupação com os termos da lei, que já estão sendo aplicados informalmente desde a ascensão dos talibãs ao poder em 2021.

Apesar das declarações do governo sobre a aplicação moderada da nova legislação, as mulheres têm sido as principais afetadas pelas restrições impostas, incluindo o acesso à educação, espaços públicos e certas oportunidades de emprego, criando o que a ONU descreve como um “apartheid sexual” no país. Medidas como a proibição de interação entre pessoas de sexos opostos e a exigência de acompanhantes masculinos para mulheres em táxis estão entre as restrições vigoradas pelo governo talibã desde sua chegada ao poder.

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