Professor da USP prevê negociações de Maduro com pressão internacional
Segundo o analista Rafael Duarte Villa, o apoio dos altos escalões militares ao presidente da Venezuela permanece sólido, no entanto, a intensificação das pressões vindas tanto do interior do país quanto do exterior gera a possibilidade de mudanças no panorama político.
Os protestos de rua e a crescente pressão internacional parecem estar influenciando o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, a considerar a abertura de um canal de negociação que poderia resultar até mesmo na reversão dos resultados da eleição, conforme análise de Rafael Duarte Villa, professor de Ciência Política e Relações Internacionais da USP.
Fontes extraoficiais relatam incidentes fatais em protestos na Venezuela desde a segunda-feira, 29 de janeiro. Na tarde desta terça, a Casa Branca condenou qualquer forma de repressão política ou violência contra manifestantes e opositores como inaceitável.
Por sua vez, o Ministério da Defesa chavista acusa grupos políticos derrotados de estarem tramando um golpe de Estado midiático, apoiado nas redes sociais e pelo imperialismo norte-americano e seus aliados.
Na madrugada de segunda-feira, 29, o Conselho Nacional Eleitoral anunciou que Maduro conquistou 51,2% dos votos na eleição presidencial, enquanto Edmundo Gonzáles obteve 44,2%. No entanto, a oposição não reconhece o resultado e convocou imediatamente uma mobilização contra o governo.
María Corina Machado, figura principal da oposição, convocou “assembleias de cidadãos” para terça-feira em frente à sede da ONU em Caracas. Enquanto isso, Maduro denunciou o que considera um golpe de Estado e convocou uma marcha em direção a Miraflores, o palácio presidencial.
“Não acredito que o governo e o CNE, dominado pelo chavismo, sejam capazes de suportar a pressão social e internacional”, observou Duarte Villa em entrevista à CartaCapital. “Em algum momento, eles devem estabelecer um canal de comunicação nas próximas semanas.”
Leia os pontos chave da entrevista:
Na análise do professor sobre um possível terceiro mandato de Maduro, ele prevê um cenário de instabilidade, isolamento regional e internacional, além de uma forte deslegitimação das instituições. A possibilidade de convulsão social já se mostra presente.
Quanto à reversão do resultado eleitoral pela oposição, Duarte Villa enxerga viabilidade, citando possíveis fraudes demonstradas pelas atas divulgadas. Ele destaca a inédita mobilização social na Venezuela e a crescente pressão social como fatores determinantes para uma possível negociação.
Quanto ao papel do Brasil na mediação da tensão, Villa destaca a necessidade do governo Maduro e do CNE abrirem negociações para uma recontagem das atas. Se isso não ocorrer, o Brasil terá pouca margem de manobra, podendo retirar seus representantes e até mesmo chamar sua embaixadora de volta.
Sobre o apoio dos militares a Maduro, o professor ressalta a divisão entre a cúpula militar, favorável ao governo, e setores médios e soldados que expressam oposição. O crescimento dos protestos sociais e a pressão internacional podem impactar a continuidade desse apoio incondicional.
Quanto aos próximos meses na Venezuela, a preocupação principal é evitar um cenário de violência, visto o crescimento dos protestos sociais. O cenário mais provável, conforme Villa, é a possibilidade de o governo Maduro e o CNE cederem e realizarem uma recontagem das atas como parte de uma solução para a crise. A pressão social e internacional podem levar à abertura de um canal de comunicação nas próximas semanas.