Filhos de El Chapo e Mayo Zambada presos nos EUA
A captura de Mayo Zambada e Joaquín Guzmán López, conhecido como filho de Chapo Guzmán, representa um grande impacto para o cartel de Sinaloa, sendo considerado um dos momentos mais significativos e desafiadores da trajetória recente da organização criminosa.
“Estão procurando ele em todos os lugares, mas o homem sequer está escondido”, relata a letra de uma música dos Los Tucanes em homenagem a Ismael “El Mayo” Zambada. O renomado traficante de 76 anos, um dos três fundadores e atual líder do cartel de Sinaloa, foi detido na quinta-feira (25/7) pelas autoridades americanas em El Paso, cidade no Estado do Texas. Além dele, também foi preso Joaquín Guzmán López, filho de 36 anos do famoso Chapo Guzmán, condenado à prisão perpétua nos EUA e outro dos fundadores do Sinaloa, uma das maiores operações de tráfico de drogas do mundo.
As prisões representam um golpe inédito para dois dos traficantes mais procurados globalmente, acusados de extorsão, corrupção, tráfico de narcóticos e lavagem de dinheiro. Elas também representam um revés para um ícone do tráfico — El Mayo, também conhecido como “O Homem do Sombreiro”, que, ao longo de quatro décadas, inspirou admiração, músicas, histórias, bem como envolvimento em casos de mortes e corrupção. A música dos Los Tucanes, com 10 milhões de visualizações no YouTube, ecoa: “A lei quer pará-lo, os contras querem matá-lo, mas ninguém conseguiu, o diabo aparece para eles”. No entanto, o mito de El Mayo de nunca ter sido preso chegou ao fim.
A expectativa agora é que tanto El Mayo quanto Joaquín Guzmán enfrentem destinos semelhantes ao de Chapo, que está cumprindo prisão perpétua desde 2019. Em fevereiro, Zambada foi acusado por autoridades americanas de conspiração para produzir e distribuir fentanil, uma droga mais potente que heroína e considerada um dos principais fatores da crise de opioides nos EUA. Embora os detalhes das prisões não tenham sido divulgados publicamente, aparentemente ambos traficantes voaram para os EUA.
De acordo com fontes oficiais dos EUA e do México citadas pelo Wall Street Journal, Zambada teria sido enganado por um alto funcionário do cartel de Sinaloa colaborando com as autoridades americanas, como o FBI. O avião em que Zambada estava insinuou uma viagem para supervisionar campos de pouso clandestinos no sul do México, mas acabou pousando em El Paso, Texas. O jornal New York Times indica que Joaquín Guzmán López teria sido o responsável por enganar Zambada, culminando na captura do traficante e na sua própria entrega às autoridades.
Em comunicado, o procurador-geral dos EUA, Merrick Garland, afirmou que os dois homens “lideram uma das organizações mais violentas e poderosas de tráfico de drogas do mundo”. Segundo Garland, o fentanil representa a maior ameaça mortal por drogas enfrentada pelo país, e o Departamento de Justiça está comprometido em responsabilizar todos os líderes de cartéis, integrantes e associados envolvidos na disseminação de drogas nocivas.
Autoridades americanas destacam o cartel de Sinaloa como o principal fornecedor de drogas para os EUA, sendo o fentanil responsável pela elevada taxa de mortalidade entre americanos de 18 a 45 anos. A captura de Zambada era tão almejada que as autoridades ofereciam uma recompensa de US$ 15 milhões por informações que levassem à sua prisão. Durante o julgamento de El Chapo em 2019, advogados de defesa mencionaram que Zambada teria subornado amplamente o governo mexicano em troca de impunidade.
Além das acusações relacionadas ao fentanil, Zambada enfrenta acusações de tráfico de drogas, assassinato, sequestro, lavagem de dinheiro e crime organizado. Seu sobrinho, Eliseo Imperial Castro, conhecido como “Cheyo Antrax”, foi morto em maio em uma emboscada no México, também sendo procurado pelas autoridades dos EUA. Zambada, uma figura proeminente no tráfico internacional de drogas, foi considerado um mito no México devido à sua habilidade em criar laços com as comunidades onde atuava.
Sua história, que passou de “soldado raso” a “chefe dos chefes”, é marcada por pragmatismo, astúcia e corrupção. Iniciando como entregador de móveis em Cuilacán nos anos 1970, Zambada ingressou no cartel de Guadalajara e posteriormente no cartel de Juárez, expandindo sua influência e contatos na Colômbia. Enquanto outros líderes eram eliminados ou capturados, Zambada consolidava seu poder, mantendo uma discrição incomum para um traficante. Pouco se sabe sobre sua vida pessoal, uma vez que ele raramente era visto em público e alterou sua aparência através de cirurgias plásticas.
Zambada era conhecido por seu estilo de vida discreto e pela criação de uma rede de lavagem de dinheiro gerenciada por mulheres de sua família. Sua influência era tão vasta que, segundo relatos, chegou a lavar bilhões de dólares para o cartel, possuindo propriedades em diversos setores da economia, conforme apontado pelo departamento do Tesouro dos EUA. Sua detenção representou um marco na luta contra o tráfico de drogas internacional.
Quanto a Joaquín Guzmán López, conhecido como El Güero, filho de El Chapo e Griselda López Pérez, pouco se sabia sobre seu papel na organização. Gradualmente, descobriu-se seu envolvimento em negócios ilícitos, incluindo uma operação que facilitou a fuga de El Chapo de uma prisão em 2015. Com a prisão de Zambada e Guzmán López, a estrutura do cartel de Sinaloa sofreu um abalo significativo, demonstrando que as autoridades estão agindo firmemente contra o tráfico de drogas.