Os perigos de ridicularizar a idade de políticos como Biden e Trump

Arick Wierson aponta a falta de diálogo sobre o preconceito etário nas últimas eleições americanas

Combinação de fotos de Donald Trump e Joe Biden em eventos de campanha Reprodução: https://www.cnnbrasil.com.br

No contexto atual, em que se debate intensamente sobre se a idade é um critério válido para avaliar a capacidade de ocupar cargos políticos, enfrento um momento pessoal que me faz refletir profundamente sobre o tema. Como filho único, nos meus cinquenta e poucos anos, estou ajudando meus pais – minha mãe de 88 anos e meu pai de 90, que luta contra a demência – a se mudarem de sua residência de longa data para um asilo. Essa vivência pessoal agregou uma nova dimensão às minhas análises enquanto colunista político, dando-me uma perspectiva única sobre como o preconceito relacionado à idade ainda está profundamente enraizado em nossa sociedade.

Piadas sobre a idade dos líderes políticos, como o presidente Joe Biden e o ex-presidente Donald Trump, são comuns nas mídias, perpetuadas até mesmo por programas de humor noturno sem qualquer oposição significativa da grande mídia. Essa postura se reflete em uma cobertura jornalística que frequentemente sugere que a mera idade avançada de um candidato poderia, por si só, desqualificá-lo de um cargo tão exigente quanto o da Presidência. Publicações renomadas, como ‘The Guardian’, e ‘The Atlantic’, abordam essas questões com manchetes que enfatizam unicamente a idade, contribuindo para um estigma que deveria ser reavaliado.

Essa recente eleição nos EUA, comparada com a de 2008 que culminou na eleição histórica de Barack Obama, destacou a relutância em discutir a idade como um possível impedimento no contexto político, uma distorção que contrasta drasticamente com debates anteriores sobre diversidades e inclusão, como a integração de gays nas forças armadas ou de mulheres em posições de liderança em grandes empresas.

A mídia e a cultura popular contribuem para a corrosão de uma sociedade que não apenas está envelhecendo, mas que poderia, ao invés disso, beneficiar-se da sabedoria e da experiência acumuladas por seus cidadãos mais velhos. Enquanto tecnologias avançadas melhoram a expectativa e qualidade de vida, discussões superficiais sobre a idade apenas refletem um preconceito que todos nós, cedo ou tarde, enfrentaremos. Portanto, ao invés de debater se a idade de Biden ou Trump os torna inaptos, deveríamos valorizar e abrir espaços para a inclusão etária, reconhecendo que, hoje, viver mais é também viver melhor.

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