Ambiente e desenvolvimento cerebral: Opinião Cart
Pesquisas científicas revelam a influência do ambiente externo no nosso cérebro e na manifestação de enfermidades psiquiátricas. Esses estudos apontam para a importância de considerar o impacto do ambiente ao nosso redor na saúde mental e no funcionamento cognitivo, destacando a complexa interação entre fatoresambientais e o bem-estar psicológico.
A rotina agitada no centro de São Paulo me leva a percorrer diariamente entre a Bela Vista e a Avenida Dr. Arnaldo, onde cumpro com meus compromissos no atendimento médico e nas atividades de ensino e pesquisa. Em meio ao caos urbano e às demandas do cotidiano, sou surpreendida pelas melodias do sabiá que entram pela janela, trazendo um alento em meio à selva de concreto e poluição. Uma sensação de serenidade invade meu ser, acompanhada pelo pensamento reconfortante de que ainda não é o fim do mundo.
Grata pela interação entre Deus e a natureza, que para mim se fundem em uma só entidade, encontro na harmonia do canto dos pássaros uma injeção de ânimo para prosseguir nas batalhas diárias. Movida por essa experiência significativa, decidi explorar se outras pessoas já haviam vivenciado ou estudado esse efeito, e deparei-me com uma pesquisa científica realizada em outubro de 2022 pelo Instituto Max Planck, na Alemanha.
O estudo conduzido por pesquisadores analisou o impacto do canto das aves no estado mental de 275 indivíduos, revelando que essas melodias têm o poder de gerar emoções positivas, reduzindo sentimentos de angústia, ansiedade e até mesmo paranoia nos participantes. O simples canto dos pássaros pode ser capaz de atenuar pensamentos paranoicos, que por sua vez alimentam um ciclo de autodestruição mental a partir de crenças infundadas.
Além disso, um estudo mais recente, publicado em abril de 2024 pela revista Molecular Psychiatry, da Nature, analisou os impactos do ambiente no desenvolvimento cerebral e nas doenças psiquiátricas. Fatores como poluição, estética das construções, presença de vegetação, temperatura, ruído e violência foram identificados como elementos que influenciam diretamente nossa saúde mental e a estrutura cerebral, podendo acelerar quadros de demência e Parkinson.
A exposição a esses fatores, sobretudo durante fases críticas do desenvolvimento cerebral, como infância e adolescência, pode acarretar sequelas irreversíveis e desencadear uma ampla gama de transtornos mentais, afetando o aprendizado e resultando em estagnação social. Por outro lado, ambientes que integram a natureza têm o poder de minimizar tais danos e favorecer a redução da ansiedade, melhoria da atenção e um desenvolvimento cognitivo mais saudável.
Lamentavelmente, presenciei recentemente uma situação desoladora. Uma bela cachoeira, outrora intocada, foi modificada para atender ao turismo local, com plástico e concreto moldando seu curso e desmatando as araucárias do entorno para dar lugar a um estacionamento de ônibus. Este cenário reflete a triste realidade de desmatamento, urbanização desordenada e destruição de áreas de preservação, marcada pela brutalidade e ignorância que nos cerca.
À medida que avançamos nesse contexto, surge a reflexão sobre o acesso à educação e cultura em diferentes gerações no Brasil. A negligência social e a falta de consciência sobre as desigualdades resultam em um isolamento daqueles que poderiam contribuir para amenizar tais problemas, promovendo um ciclo perigoso de exclusão e marginalização. Será que estamos nos aproximando de um ponto de não retorno?