Análise dos vencedores e perdedores no debate eleitoral em SP

No debate inaugural entre os postulantes mais destacados à prefeitura da maior cidade do Brasil, São Paulo, ficaram evidentes as competências de Boulos e Tabata, os obstáculos enfrentados por Nunes, e as adversidades enfrentadas por Datena e Marçal.

Foto: Flickr/Renato Pizzutto/Band Reprodução: https://www.cartacapital.com.br/

Com o término das convenções partidárias, o cenário eleitoral efetivamente se inicia. Mesmo sem a permissão de fazer campanha, o quadro de candidatos está finalizado. Assim, o primeiro debate na Band marcou o início do processo eleitoral, embora não tenha tido um impacto imediato na conquista de votos. No entanto, foi crucial para testar as estratégias dos concorrentes à prefeitura de São Paulo.

O debate, que contou com a participação dos cinco principais candidatos, desempenhou exatamente esse papel. Eles foram divididos em três grupos: os mais preparados e consistentes, representados por Guilherme Boulos (PSOL) e Tabata Amaral (PSB); os “outsiders”, Pablo Marçal (PRTB) e José Luiz Datena (PSDB), que se mostraram perdidos em diversos momentos; e o prefeito Ricardo Nunes (MDB), enfrentando a difícil missão de se defender das críticas de seus oponentes.

Nunes adotou uma estratégia baseada em números de sua gestão, buscando convencer o eleitor de que realizou bastante e merece outra oportunidade. No entanto, essa abordagem carece de uma narrativa que dialogue com a insatisfação do eleitorado. Não é suficiente para criar uma estratégia que aumente sua popularidade, a qual já se encontra em um patamar não muito favorável: uma pesquisa do Datafolha divulgada na véspera do debate indicou uma queda de cinco pontos percentuais na avaliação positiva do prefeito em um mês, período em que a legislação impede inaugurações e agendas públicas. Diante da ausência de visibilidade do cargo, a percepção sobre sua gestão se deteriorou.

Apesar de não ter saído derrotado, o debate serviu para antecipar as dificuldades que Nunes enfrentará. Em várias ocasiões, ele demonstrou nervosismo e irritação, o que pode ser prejudicial em eleições majoritárias. Por outro lado, é possível afirmar que Marçal e Datena tiveram um desempenho aquém. Datena se mostrou confuso e errático, atacando repetidamente Nunes, porém sem consistência ou coerência. A impressão passada é a de que ele não deseja estar ali como candidato e talvez desista, mesmo pontuando relativamente bem nas pesquisas. Quanto a Marçal, foi agressivo e confuso, focando em clichês e frases de impacto para viralizar nas redes sociais, mas sem se comunicar efetivamente com um eleitorado mais amplo. Além disso, ele ainda possui fragilidades, como a condenação por fraude bancária mencionada por Tabata e Boulos. Sua resposta arrogante ao afirmar que tem recursos para pagar suas dívidas reforça sua identificação com o bolsonarismo, dificultando sua expansão para fora dessa bolha.

Tabata e Boulos, por sua vez, tiveram os melhores desempenhos. Como única candidata mulher presente, Tabata questionou Nunes de forma incisiva sobre a denúncia de agressão física feita por sua esposa, deixando-o sem resposta e visivelmente irritado. Ela também se destacou ao abordar o tema da educação, uma das áreas de destaque de seu mandato como deputada. Contudo, ao longo do debate, a candidata do PSB ficou isolada e não conseguiu apresentar uma narrativa mais abrangente. A polarização foi evidente no embate.

Boulos conseguiu conjugar críticas consistentes a Nunes com uma narrativa de mudança e propostas concretas. Ele trouxe à tona diversas denúncias de corrupção contra o prefeito, as quais este não conseguiu rebater. Boulos se destacou ao abordar temas como segurança pública e saúde, apresentando a ideia do Poupa Tempo Saúde, com potencial para se tornar uma marca forte, assim como o Bilhete Único e os CEUs na gestão de Marta Suplicy. Líder nas pesquisas, Boulos foi alvo de ataques de Nunes e Marçal, que se basearam em sua militância no MTST e questões internacionais. No entanto, ele conseguiu se sair bem, evitando cair em provocações e mantendo a coerência de sua narrativa. Não vale a pena rebater acusações que, neste momento, só ressoam na bolha bolsonarista.

Outro ataque veio de Datena, relacionando Boulos a Lula, sendo que essa associação, na verdade, pode favorecê-lo. Boulos optou por utilizar essa conexão estrategicamente, guardando-a para momentos-chave. Além disso, mostrou habilidade ao nacionalizar o embate, ligando Nunes e Marçal a Bolsonaro, cuja rejeição é alta. Descrevendo Nunes como um “bolsonarista envergonhado” e Marçal como “bolsonarista abandonado”, essas imagens podem ganhar destaque ao longo da campanha.

Em resumo, Boulos demonstrou potencial para unificar a esquerda e atrair eleitores do centro que rejeitam o bolsonarismo. Já Nunes teve uma pequena amostra das dificuldades que terá ao tentar realizar uma movimentação similar, visando unir a direita e alcançar o centro. Sua estratégia, baseada na máquina pública e em realizações, dependerá da televisão e das atividades de rua para funcionar, mas suas várias vulnerabilidades serão amplamente exploradas por todos os concorrentes.

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